Querida mamãe,
Esta noite acordei estranhando o silêncio. Não havia barulho algum e pensei queo mundo tinha até acabado e você esquecido de mim. Coloquei a boca no trombone evocê veio. Ainda bem!
Fiquei tão feliz no calor do seu peito que acabei pegando no sono antes de mamartudo o que precisava. Quando percebi que você ia me colocar no berço, chorei denovo, mas não tente negar: você estava com pressa para ir dormir outra vez.
Você me deu de mamar novamente, assim, meio apressadinha e depois resolveutrocar a minha fralda. Estava tudo tão calmo, um silêncio, nós dois juntinhos.Estava legal e eu perdi o sono. Você até que foi compreensiva, mas começou abocejar e resolveu me fazer dormir. Eu não queria dormir. Talvez eu precisassede mais dez minutos, meia hora.Mas você estava mesmo decidida a dormir. Foi ficando bem nervosa e até chamou opapai. Eu não queria o papai e todos fomos ficando muito irritados. No final dascontas acordei a casa inteira cinco vezes. De manhã nossa família estava comcara de quem saiu do baile. Acho que estraguei tudo.Imagina, você chegou a dizer para o papai que eu estou com problema de sono. Eunão! Você é que vem me dar de mamar com pressa e daí eu sinto que você não quermais ficar comigo.Os adultos tem hora certa para tudo mas eu ainda não entendi essas de relógio etarefas estafantes que as pessoas grandes precisam fazer. Quando meu corpo estácom o seu, quero ficar do seu lado sem me separar nunquinha. Do alto dos meustrês meses ainda não descobri direito que você é uma pessoa e eu sou outra.Um dia, eu vou sair por aí, vou saber telefonar e posso lhe deixar doida parasaber o que ando fazendo e então você vai entender como me sinto agora. Mas nãoprecisamos dessa guerra mamãe. Até lá já poderemos nos entender inclusiveatravés das palavras. Sinto a angústia da separação, pois terminei de viver umadas grandes. Você também, mas vive tudo isso como adulta consciente. Eu aindavivo no inconsciente.
Por enquanto nossa comunicação direta fica restrita aos nossos sentimentosinconscientes. Eu não sei nada, tudo é novo para mim. Você pode até achar quenão sabe nada e que tudo é novo para você, mas eu vou aprender o que você meensinar através da sua sensibilidade, dos seus sentimentos em relação a mim.Sabe, mamãe, se você quer um conselho, vou dar: quando eu chorar à noite, nãosalta logo para meu berço desesperada, como se o mundo fosse acabar. Espere umpouquinho, respire profundamente, ouça o meu choro até que ele atinja o seucoração. Sinta seu tempo, realmente acorde e venha me pegar. Me abrace devagar,não acenda a luz, fale bem baixinho e me dê o seu peito para eu mamar. Depoisque eu arrotar, mais um pouco só de paciência, pois nós, bebês, somos muitosensíveis aos sentimentos dos adultos, especialmente os da mamãe. Se eu sentirque você está com pressa, sou capaz de armar o maior barraco, mas se vocêesperar até o meu segundo suspiro, quando meus olhos ficarem bem fechados,minhas mãos e pernas bem molenguinhas, aí sim pode me colocar de volta no berçoque eu não acordo antes de sentir fome outra vez.
Conforme você for desenvolvendo sua paciência mamãe, eu estarei desenvolvendominha tranqüilidade e nós não teremos mais noites infernais; apenas noites demamãe/bebê, que um dia passam, como tudo na vida.
Sempre seu,
Gu-gu dá-dá!
Acordando de madrugadaTexto de Cláudia Rodrigues, jornalista e educadora somática
Um comentário:
Olá queridaa, como vc esta??? na luta???
Eu voltei, agora de casa nova, vai lá...
bjus e boa sorte para todoas nós nesta luta.
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